terça-feira, 18 de setembro de 2012

BRASIL E ESPANHA TENTAM DESVENDAR A MATÉRIA ESCURA

Novo observatório de astronomia binacional vai investigar um dos maiores mistérios do universo: aquilo que ninguém enxerga.
HERTON ESCOBAR - O Estado de S.Paulo
No topo de uma montanha próxima a Teruel, no leste da Espanha, o sonho de um Prêmio Nobel para o Brasil começa a tomar forma. É lá, no Pico do Abutre, a quase 2 mil metros de altitude, que um novo observatório astronômico está sendo construído pelos dois países com o objetivo de investigar um dos maiores enigmas científicos de todos os tempos: a natureza da matéria escura. Uma coisa que ninguém vê e ninguém sabe o que é, mas que constitui mais de 80% de toda a matéria do universo. Um problema que incomoda e fascina cientistas há quase oito décadas.

O Observatório Astronômico de Javalambre, batizado com o nome da cadeia de montanhas que o abriga, está em fase avançada de construção. O complexo todo, orçado em 30 milhões, está quase completo, com sala de controle, túneis, dormitórios e telescópios de apoio. Faltam as duas peças fundamentais: o telescópio T250, que está sendo montado na Bélgica, e a câmera J-PCAM, que foi projetada e está sendo construída parcialmente no Brasil - principal contribuição do País para o projeto, no valor de 5 milhões.

Segundo Renato Dupke, do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, será a segunda maior câmera do mundo, com uma resolução de 1,2 bilhão de pixels e pesando mais de 1 tonelada. A previsão é de que ela fique pronta só em 2014, mas que o observatório comece a operar já em 2013, com outros instrumentos.

A partir de 2015, com o telescópio e a câmera acoplados, o observatório dará início ao seu maior projeto de pesquisa: o Levantamento Astronômico de Javalambre sobre a Física da Aceleração do Universo (J-PAS, em inglês), que vai produzir um mapa tridimensional do céu, com a localização precisa de bilhões de estrelas, galáxias, aglomerados de galáxias e outros objetos espaciais, cuja posição e comportamento são influenciados pela matéria escura.

"Só te digo uma coisa: queremos o Prêmio Nobel", diz o pesquisador Laerte Sodré, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo, um dos líderes do projeto.

Um objetivo extremamente ambicioso, mas não tão pretensioso assim. "Se pode sair um Prêmio Nobel desse projeto? Certamente que sim", afirma Dupke, que divide a coordenação científica do J-PAS com o colega espanhol Narciso Benítez, do Instituto de Astrofísica de Andaluzia. O projeto foi tema de uma reunião de quatro dias na semana passada, no IAG.

Não há dúvida de que aqueles que desvendarem o enigma da matéria escura serão candidatos fortíssimos ao Nobel. O J-PAS não terá como dizer do que é feita a matéria escura exatamente - algo que só a física de partículas poderá eventualmente responder -, mas poderá dar pistas importantes sobre seu comportamento, sua distribuição e sua influência sobre a evolução das galáxias e do universo. Informações essenciais para entender também sua estrutura. "Para saber do que é feita a matéria escura precisamos saber suas propriedades com muita precisão", explica Benítez.

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