quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Queda de mais um satélite aumenta preocupação com o lixo espacial

Phobos-Grunt é a terceira nave a cair na Terra em quatro meses.
Para especialistas, lixo espacial é mais perigoso no céu do que em terra.
Sonda interplanetária russa Phobos-Grunt
(Foto: Reuters)

A sonda russa Phobos-Grunt foi a terceira nave a cair na Terra em um período de menos de quatro meses. Em 24 de setembro de 2011, destroços do satélite americano Uars se lançaram sobre o Oceano Pacífico. Em 23 de outubro, foi a vez de o alemão Rosat encontrar seu fim nas águas do Índico.
A verdade é que quase todos os dias algum objeto do espaço entra na atmosfera da Terra. Na maior parte, são objetos pequenos, pedaços de foguetes ou satélites, que viajam a velocidades muito altas, acima de 25 mil km/h. A resistência do ar gera atrito e, por consequência, eleva a temperatura, o que faz com que esses objetos se desmanchem.
Segundo a Nasa, há cerca de 19 mil objetos com pelo menos 10 cm na órbita da Terra. Com entre 1 e 10 cm, são em torno de 500 mil. Os fragmentos ainda menores são dezenas de milhões.


Lixo espacial

É considerado lixo espacial qualquer objeto criado pelo homem que esteja na órbita do planeta e já não tenha mais utilidade. Era o caso dos satélites Uars e Rosat, que estavam aposentados e sem controle havia anos, antes de caírem na Terra em 2011.
“Você não vai jogar fora um satélite que opera perfeitamente. Você só quer jogar fora quando ele já está falhando e, quando ele está falhando, fica difícil retirá-lo de lá. É como se o seu carro estragar e você o abandonar na beira da estrada”, compara Petrônio Noronha de Souza, chefe do Laboratório de Integração e Testes do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Satélite alemão Rosat, que caiu em outubro
(Foto: Instituto Max Planck / Divulgação)

A região mais congestionada da órbita fica cerca de 800 km acima da superfície da Terra. Objetos nessa altitude levam décadas para reentrar na atmosfera. A 600 km, eles caem em questão de poucos anos, e o processo leva séculos se a altitude passa de 1.000 km.

Nós gostamos que os objetos caiam, porque isso diminui o risco de colisões no espaço"
Darren McKnight, Conselho de Pesquisa Nacional dos EUA
A maior preocupação, no entanto, não deve ser com o risco de um satélite em queda. Um acidente no espaço é mais provável e pode afetar satélites em funcionamento, essenciais para serviços como a meteorologia e as comunicações.
“O prejuízo que seria causado para a sociedade moderna se ela perdesse a capacidade de usar os serviços dos satélites seria muito maior do que o provocado pela queda de uma peça na Terra”, aponta Noronha de Souza.

“Nós gostamos que os objetos caiam, porque isso diminui o risco de colisões no espaço”, concorda Darren McKnight, do Conselho de Pesquisa Nacional dos EUA, um dos autores de um estudo publicado em setembro sobre os riscos impostos pelo lixo espacial.
Para ele, o risco que uma pessoa tem de ser alvejada em terra por um destroço espacial é comparável à de ser alvejado por um raio. “Já houve grandes pedaços caindo antes. Eu não diria que o risco está aumentando”, avalia o especialista.

‘Vai piorar’

O que preocupa McKnight são os anos por vir. “Não sabemos exatamente como o futuro vai se desdobrar nessa área”, admite. “Só sabemos que vai piorar, mas não sabemos se vai piorar muito ou pouco”.
No ponto de vista do pesquisador, o processo de despoluição dos céus já deveria ter começado. “Temos capacidade, mas não temos justificativa econômica para fazer isso por enquanto”, ele diz, ponderando que o alto custo é um problema para convencer as autoridades.
Para ele, a situação é semelhante à vivida pelos norte-americanos antes dos atentados de 11 de setembro. “Todos sabiam que havia risco de um ataque em nosso solo, mas ninguém ia ter a disposição de tirar cintos e sapatos na revista do avião sem um bom motivo para isso”, ele compara.
Além disso, McKnight considera o novo modelo de exploração espacial adotado pelos EUA, que incentiva os investimentos privados, um problema.
“Eles vão economizar muito e são muitas companhias diferentes indo para o espaço”, prevê. A consequência, na linha de raciocínio do pesquisador, seria o aumento na produção de objetos, sem grandes preocupações com o descarte do lixo, uma vez que investimentos a mais nessas tecnologias poderiam prejudicar os lucros.

Fonte: G1

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